Tuesday, March 25, 2008

Minhoca Minha

Eles se conheceram numa quarta-feira.
E firmaram o palco que seria a testemunha e o estímulo das heresias, profecias, e divagações de uma próspera amizade: a mesa de bar.
Ela saiu de casa aquele dia pra tornar real o que já nem acreditava que pudesse existir, porque placa de Unaí se vê em Brasília mais que placa de retorno, mas daí encontrar um ser humano correto, educado e politizado só podia ser miragem de oásis no deserto de outubro do Distrito Federal.
Ele era curiosidade na cabeça dela. Mal sabia ele que a roraimense já tinha escutado parte de suas histórias vergonhosas, e que já tinha até se divertido à custa dele por causa disso. E ele nem era o objetivo da noite... Aliás, nem do dia. O feriado era pra ter sotaque carioca e nortista, e não das porteiras das terras de peão e rodeio.
Ela saiu de casa vestida pra batalha, mal sabia o que podia encontrar no percurso ou no destino, na dúvida, e na seca, nunca se arrisca. Deixa a alça do sutiã aparecer, que é máximo que ela sabe fazer pra provocar o sexo oposto. E vestida que nem piranha ela chega no bar, faz cara de paisagem, acha a mesa e senta. Pronto, hora do abate.
A mania de perseguição cognitiva nunca culminou daquele jeito. Por fora um sorriso e uma maquiagem impecável, mas a mão suava, e seu coração abraçara o pâncreas adoentado.
E ele veio de brinde.
Ele não, eles.
Porque tinha outro lá, uma das criaturas mais insanas, afetadas, e amorosas que ela teve o prazer de encontrar em sua sobrevivência.
Eles se olharam, e pronto. Não se sabe como foi pra ele, pra ela foi amor à primeira vista.
Eles se gostaram de graça, e olha que ela gostar de alguém assim, é quase como ganhar na loteria. E num pequeno gesto de cavalheirismo, que nem é comum pra ele, ela se encanta. Um simples copo de cerveja, ele deu o dele pra ela, e regou a rosa do Pequeno Príncipe.
Se conhecerem, se adoraram, embebedaram, e dançaram. Cansados sentaram no chão, e meia dúzia de palavras apenas foram ditas. Nada mais precisava ser comentado.
A noite acabou.
Ele ganhou diversão.
Ela alcançou objetivos, e resgatou sentimentos.
Ele ganhou uma amiga.
Ela ganhou mais anos de vida.



Pro Mauro. Tinhamo.

2 comments:

Bruna said...

"Minhoca, minhoca, me dá um beijoca?!"


preciso conhecer este ser tão adoravel um dia da minha vida.

:)

Mauro said...

"Minhoco, seu bobo, você beijou meu rabo! A boca é do outro lado!"

Nhé.
Amei e pronto.
Naquela mesa mesmo.