Primeiro de maio acabou, e aqui estou eu.
Teria sido um dia comum, se não fosse o pior aniversário da minha vida.
Doeu, mas não tanto quanto eu pensava que ia doer.
Aniversários pra mim perderam o sentido desde que voltei pra Brasília, eu simplesmente acho que eu não tenho mais o que celebrar. Família e amigos longe demais pra isso.
Na verdade eu não estou aqui pra me lamentar, percebi que isso não me leva a lugar algum. Mas estou aqui pra analisar meu dia, e consequentemente minha vida.
Fiz 19 anos na madrugada de ontem, e posso dizer que os meus primeiros-de-maio já foram mais completos em muitos sentidos. Mas em nenhum outro aniversário eu tinha o auto-conhecimento que tenho hoje. Afinal de contas, é isso que a gente ganha com a idade, conhecimento e amadurecimento.
No último ano em que vivi minha vida deu um salto: entrei na faculdade, comecei a morar sozinha, e arranjei um emprego. Três coisas que eu não imaginava fazer aos 19 anos. Comparando com as ambições de antes, acho que eu cheguei bem mais longe do que esperava. Eu só não sabia que teria que pagar um preço muito alto por tudo isso.
No período em que eu morei em Boa Vista, eu não desejei outra coisa além de voltar pra Brasília. Sempre achei que aqui era o meu lugar. Mas o dia em que isso de fato aconteceu, meu coração se dividiu muito mais do que eu gostaria. Foi um sofrimento inexplicável. E desde o dia que cheguei, uma pergunta martela em minha cabeça: Será que eu estava certa? Será que tudo o que eu quis esse tempo todo não é o certo pra mim? Será que vale a pena ficar longe de quem se ama, mesmo que em busca de um sonho? Eis o drama de minha vida.
E as respostas, sabe Deus quando eu vou ter.
Analisando tudo, tenho total certeza de que toda essa experiência me faz crescer a cada dia, mas tenho que admitir uma coisa: a convivência comigo mesma não tem sido nada fácil. A gente sempre tem a ilusão de que morar sozinho é eliminar muitos, se não todos os problemas de relacionamento que temos com quem moramos, mas a parte de saber lidar com a solidão não é contada em nenhum livro, e nem falada por nossos pais no dia da despedida.
E eu só percebi que ainda tenho muito a crescer por causa da dor. Ela tem sido o meu "medidor de crescimento". No dia em que eu parar de sofrer, e sentir só saudade, vou ter atingido a tal da maturidade. Mas é como diz aquela música: "It´s a long way to the top, if you wanna rock n roll".
Pra terminar, vai um poema da escritora Martha Medeiros, sobre quando sua filha foi estudar no exterior:
Embarquei minha filha no navio e disse, minha filha, vai
Disse, minha filha vai descobrir o que há do outro lado do mar
Embarquei e disse, vai minha filha, descobrir o que há que não se pode contar
Disse, vai e olha com teus olhos o que amor nenhum pode detalhar
Vai, minha filha, sonhar e conhecer melhor o mundo para melhor navegar
Disse, vai, minha filha atravessar fronteiras e encontrar o que existe do lado de lá,
Eu disse vai, que eu fico te esperando aqui minha filha,
Eu fico te aguardando,
Eu disse, vai que eu guardo teu lugar.
Então hoje eu começo meus 19 anos. E começo mal.
Mas amanha tudo pode estar melhor.