Então eu vou atravessar a rua, torço o tornozelo, tenho que engessar o pé, e minha mãe vem lá de Roraima cuidar de mim pra que eu não comemore gols e nem dance macarena com o tornozelo fudido.
Eu nunca tinha notado como a vida é frágil, e um simples atravessar de rua vira tudo do avesso.
A casa tava bagunçada, a vida tava bagunçada, eu tava bagunçada, e eu não deu pra arrumar tudo como eu sempre faço, antes da minha mãe chegar. Fellini também não ajudou em nada, né? O gato alucinou dois dias sozinho.
Como sempre mamãe vem pra botar minha vida em ordem e deixar as coisas certas. Só que o que é certo pra ela, deixou de ser certo pra mim faz muito tempo. O que, digamos, torna tudo mais complicado.
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Sua relação com a sua mãe é muito Almodovar pro meu gosto", disse meu Ed.
Eu completei dizendo que tinha uma pitada de Tarantino, só faltava sangue.
Mas depois de vomitarmos tudo que tínhamos pra falar uma pra outra, até que a visita ficou agradável.
Tirando a parte que ela disse "ou eu ou o gato", e eu escolhi o gato.
Então veio todo um drama de alta qualidade, que minha mãe dizia que fez muitas coisas por mim na vida, que eu tinha que fazer coisas por ela também, e que se Fellini continuasse no meu apartamento ela nunca mais viria me visitar.
Olha, depois não reclamem que sou dramática. Com um drama desse de referencial, não tem como não ser.
Então como o gato não tem culpa de nada, e minha vida tá do avesso até agora, eu resolvi pensar no pedido carinhoso da minha mãe.
Afinal de contas, ela me teve de parto normal, e eu era um bebê gordo. Preciso ao menos ter um pouco de gratidão.
Fellini agora é da Bréscia.
Ela agora que vai aguentar o kama sutra norturno nesse romance italiano.
E seja o que Deus quiser, dessa nossa Dolce Vita.
P.S: Enquanto eu escrevia esse post, minha mãe me mandou um sms dizendo "Não esqueça de tomar água e dormir cedo. Um beijo".
Te cuida, Almodovar!